Os livros também são como as cerejas. Mas para contar esta história, tenho de começar não num livro, mas numa festa. A festa de passagem de ano de 2015 para 2016. Por esses dias, andava a cair num vício de difícil cura: escrevia muitas vezes (mesmo muitas) num blogue sobre línguas (e outras manias). O título agora não interessa, mas ele ainda existe. Pois bem, nessa noite de passagem de ano, algures à beira-mar assim como quem vai para sul, enquanto a gente à minha volta contava os números de trás para a frente à espera da excitação do 0 e eu enfiava atrapalhadas passas na boca (deixar cair uvas encarquilhadas no chão dá azar, como se sabe) — decidi-me. Aquele Ano Novo de 2016 haveria de ser o ano em que, finalmente, publicaria um livro. Afinal, sempre gostei de escrever, já escrevia muito, já tinha o filho, tenho ideia vaga de ter plantado uma árvore na Primária. Já só faltava o livro (e plantar mais umas quantas árvores para compensar). Ainda por cima, recebia de vez em quando mensagens de leitores do tal blogue a dizer que gostavam de ler os meus textos, sim senhor, mas eu escrevia que me desunhava… Não dava para pôr aqueles lençóis de texto em papel? Sempre era mais fácil e agradável.
Juntei os melhores textos do tal blogue e lancei pelo éter propostas a editores. Um deles, por alguma razão que só os deuses conhecem, achou que valia a pena. Manuel S. Fonseca decidiu, estava decidido: tínhamos livro! Nem demorou muito: em Abril desse mesmo ano, ainda os sons da festa de final de ano ecoavam nos meus ouvidos, já o livro estava cá fora. Tratava de segredos e da nossa língua e até contava umas histórias sobre palavras da minha terra.